Logo após a chegada aos Campos de Viamão e, mais especificamente às Paragens de Sapucaia, os casais açorianos conheceram o alimento que iria nutri-los e sustentar suas famílias por muitas gerações: era a mandioca.
Manihotesculenta, macaxeira, aipim, castelinha, uaipi, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre, mandioca-brava e mandioca-amarga, vários nomes desta planta tuberosa da família das euphorbiaceaes. Essa raiz que podia ser consumida de muitas formas, aqui se notabilizou pela produção de farinha, a qual era o principal alimento consumido com carne fresca ou carne seca. Originária da culinária indígena a mandioca se incorporou definitivamente a alimentação dos brasileiros.
Pouca gente sabe, mas nas terras de Sapucaia existia a maior concentração de atafoneiros do Estado, bem como a maior plantação de mandioca do século XIX e início do século XX. As atafonas era os moinhos que transformavam a raiz em farinha, utilizando técnicas simples já utilizada pelos nativos. As casas de farinha ou atafonas espalhavam-se por todo o território da região.
João Machado tinha sua atafona na Estrada Sapucaia para São Leopoldo, atual Avenida Rubem Berta, perto do Arroio José Joaquim; um pouco antes funcionava a atafona de Pedro Johann. Após os trilhos do trem havia a atafona de Clementina Bastos. Um pouco além, a de Antônio Leandro Batista (morto por envenenamento com toda a sua família, por bolinhos feitos por uma filha de nome Malvina). Seu irmão, Ângelo Batista de Mattos tinha sua casa de farinha no atual bairro Nova Sapucaia, perto da atafona de Modesto Dias.
No Arroio do Moinho (Velho) funcionava o estabelecimento da família Cassel. Já Henrique Prass tinha um alambique junto a sua atafona no lado de baixo do Morro Sapucaia ao lado da atafona de João Freitas (pai do ex-prefeito João Freitas Filho), tendo nas proximidades a atafona do Onofre.
Arthur Kenats e seu irmão também tinha atafonas na localidade. Encostada ao Morro Sapucaia tínhamos as atafonas de Afonso Ramires, Antônio Bernardo e João Bernardo. Na atual divisa entre Esteio e Canoas, na época Sapucaia, funcionava a atafona de Serafim Pereira de Vargas. Cassiano Silveira tinha atafona perto dos Três Portos e João da Clara junto as terras de Serafim Pereira de Vargas. No Carioca tínhamos o estabelecimento de Otaviano Silveira, filho de Maneca Silveira.
A afirmação de que Sapucaia era conhecida como a Terra da Mandioca ou Terra da Farinha está reforçada pelo relato de Vittório Buccelli no livro “Um Viaggio Rio Grande del Sud”, publicado em 1906 em Milano, Itália, pela Officine Cromo-Tipografiche L.F. Pallestrine & Cia. Ltda, Nesta obra, consta: “Sapucaia é a terra das laranjas e bergamotas e da figueira cuja sombra pode abrigar uma centena de pessoas. Nas suas terras cultiva-se largamente a mandioca, uma raiz que seca se reduz a farinha de grande uso em todo o Brasil. Um tipo de mandioca se come, é o aipim; a outra é venenosa, usada para farinha”.
Foi a farinha fornecida pelos moradores de Sapucaia aos alemães recém-chegados em 1824, que possibilitou a manutenção dessas famílias e a sua integração no contexto local.
TBT Sapucaia – Capítulo 5 – SAPUCAIA, TERRA DA FARINHA
Eni Allgayer
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