Não havia um só segundo a perder. Despachada, Maria Luiza perguntou onde era o banheiro a um funcionário de um estabelecimento que vendia lanches, sucos e doces. Por sorte era perto. “Venha comigo”, disse para Dona Honorina, puxando-a pelo braço.
Enquanto Dona Honorina entrou no banheiro feminino, Maria Luiza deu dois passos atrás e correu ao box onde estava o ônibus. Algumas pessoas se abraçavam em despedida, outras embarcavam, e, ao fundo, outras despachavam as malas e sacolas, com o cobrador, no maleiro do veículo.
Atropelando a fila de passageiros que se formava, Maria Luiza estendeu o bilhete ao homem que estava junto a porta do ônibus. Devia ser o motorista. E logo ouviu uma reclamação que vinha de um dos últimos que estavam na fila: “é preciso esperar a sua vez como todos os outros”. Envergonhada, visto furar filas não ser do seu feitio, respondeu timidamente: “não estou furando a fila, só quero uma informação”.
E então perguntou ao motorista: “esta passagem é para este ônibus?” Ao que ele, pegando o bilhete, prontamente respondeu, “sim, é para este ônibus, pode aguardar na fila”. Ninguém entendeu nada quando Maria Luiza tomou o bilhete das mãos do homem, virou as costas e saiu correndo na direção contrária da fila… Mas pode ouvir alguém dizer: “só pode ser louca…”
Voltando o mais rápido que pode ao banheiro feminino, Maria Luiza decidiu esperar aquela nova amiga na porta. Mas, puxa vida, que demora de Dona Honorina… Olhando novamente para o box onde estava o ônibus, percebeu que já não tinha ninguém despachando malas no maleiro. E a fila de passageiros para embarque, que antes era de umas dez pessoas, já não existia mais…
Os minutos foram passando. Como a outra demorasse muito, Maria Luiza entrou a passos firmes banheiro a dentro. Vários cubículos estavam com a porta aberta, e somente dois estavam com a porta fechada. Deve ser num desses. Toc, toc, toc!, bateu Maria Luiza na porta do primeiro, dizendo em seguida: “Vamos rápido! O seu ônibus já está por sair!”. Então lá de dentro veio uma resposta ríspida, em tom de desagrado: “Não vou tomar ônibus algum, eu trabalho aqui na rodoviária”…
Enquanto se deslocava ao próximo cubículo com porta fechada, Dona Honorina, que ouvira a pergunta de Maria Luiza, respondeu: “estou aqui, minha filha, já estou terminando!” E a outra logo a interpelou: “pois seja rápida, ou vai perder o ônibus”.
Depois de alguns instantes que mais pareceram uma eternidade, finalmente Dona Honorina abriu a porta e saiu, perfilada. Imagine se não estivesse terminando, pensou Maria Luiza, quanto mais demoraria? E disse, sem mais demora: “vamos logo!”
Tomando a outra pelo braço, iniciaram o percurso até o box de embarque o mais rápido que puderam. De longe Maria Luiza percebeu que o motorista já estava sentado ao volante. Quando viu que a porta do ônibus estava se fechando, elas ainda estavam longe. Então Maria Luiza desesperou-se. Ela decidiu ajudar Dona Honorina de bom coração, passou poucas e boas com ela naquela tarde, até um fiasco enorme ambas foram protagonistas na escada rolante, não seria justo se a outra perdesse o ônibus justo agora…
Assim pensando, Maria Luiza despegou-se do braço da amiga e correu como uma garça que deseja alçar voo para tentar chegar a tempo. Ainda a alguma distância, quando viu que o ônibus começava a se locomover em marcha a ré, levantou a mão para cima e, na esperança de que o motorista a visse, com o bilhete abanando na mão, gritou: “Espere, espere! Falta um passageiro!”
Crônica escrita por Gervásio Santana de Freitas
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