Graças a DEUS Maria Luiza tinha aprendido a controlar o medo quando criança… Foi seu avô que a ensinara a manter a calma, a inspirar e a expirar o ar pausadamente… e a repetir três vezes: tranquilidade, tranquilidade, tranquilidade… Maria Luiza estava tranquila, não tinha medo de escada rolante, diferente de Dona Honorina, que estava ao seu lado e que estava apavorada.
Maria Luiza sabia que quando o medo toma conta da mente de uma pessoa, os resultados do que quer que venha a ocorrer pode ser catastrófico. Foi assim, certamente, no episódio em que morreu o filho daquela senhora idosa… O vizinho estava se afogando, morto de medo, apavorado ao extremo, o filho dela foi tentar salvá-lo e… de morto de medo que estava o outro… mortos ambos… morte molhada… morte cruel… ambos afogados!
Agora ambas estavam ali, na estação de metrô, descendo a escada rolante… Já tinham passado por um enorme fiasco: caíram as duas no momento em que Dona Honorina resolveu dar um “pequeno pulinho” para entrar na escada rolante… Parecia tudo normal, pessoas lá embaixo na plataforma, pessoas à frente e atrás delas na escada… Exceto o medo… Um medo terrivelmente anormal que Dona Honorina sentia por escada rolante e que a motivara a convidar uma estranha para ir com ela até a rodoviária de Porto Alegre…
Sabe aqueles pequenos segundos que parece que nunca passam? Tanto Maria Luiza quanto Dona Honorina pareciam que nem respiravam enquanto a escada rolante deslizava lentamente. A primeira, zelando pela companheira; a segunda morta de medo mesmo, ansiada para sair daquele lugar que para ela mais parecia um precipício sem fundo…
“Não deixe sua sacola no chão, pegue-a porque ela pode trancar na saída da escada”, disse enfaticamente Maria Luiza, afirmando-se mais, porque já se aproximava o fim da linha e não queria cair de novo… Se caíssem novamente seria imensamente pior… Imagine cair no final da escada rolante e as pessoas atrás na escada virem por cima, caindo também, similar a uma “carambola” de trânsito? Seria um fiasco ainda maior que o primeiro…
Mas, para alegria de ambas, a saída da escada rolante transcorreu bem, muito embora Dona Honorina ainda desse um pulo desajeitado, mas agora, mais comedido, mais discreto… Do tamanho que Maria Luiza pôde segurar… Pisaram finalmente na plataforma. “O pior já passou”, pensou Maria Luiza, confiante. E perguntou: “tudo bem?” Ela tinha notado que a senhora idosa tremia feito vara verde e que estava branca como um papel. E então veio a resposta: “Acho que torci um pé quando caímos… está me doendo…”
Não faltava mais nada, refletiu Maria Luiza… Como aquela senhora idosa viajaria para o interior com o pé torcido? E ela tinha de viajar… O filho dela estava morto… O velório já devia estar ocorrendo, o enterro provavelmente seria no dia seguinte…
Crônica escrita por Gervásio Santana de Freitas
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